quinta-feira, fevereiro 28, 2013


Não há o que se falar a respeito do casamento senão tocarmos na questão do amor. O Amor no século passado era tido para as pessoas como a livre expressão da paixão que ganhava muitos contornos eróticos idealistas no platonismo. Paixão e amor andavam de mãos dadas, porém, era algo muito maior do que o “ficar” ou estar “de rolo” com alguém (como se diz hoje em dia). Hoje chamam desejo de paixão e paixão de amor. Assim surge uma questão fundamental! Como se pode jurar amor eterno em um rito religioso-social baseado na paixão ou só no desejo pelo outro? O rito religioso aconselha que casemos imaculados, puros para só experimentar o erotismo com o parceiro após o casamento, mas sabemos que isso se torna inviável a muitas pessoas que olham o casamento mais como uma confirmação de algo já existente. Assim na atualidade imagem de casamento mudou muito existindo desde os mais tradicionais aos mais modernos e diferenciados.
Não confundamos amor com paixão, o desejo ardente que nos arrasta. É muito importante o casal ter em mente que o comprometimento com um casamento meses após o inicio de um namoro não se assenta sobre bases seguras, mas sim sob o desejo ardente (paixão) que vem e vai. As pessoas que optam por casar mesmo já tendo filho ou conhecendo um ao outro não estão erradas já que a relação não possui como fundamento a curiosidade sexual (a paixão já assentou) a respeito do outro, porém, não tira destes a responsabilidade de desenvolver mais o vínculo amoroso. O casamento é um destino segundo a visão psicológica já que o que está em jogo não é só a imagem física, a concepção ou o que um espera do outro, mas como um indivíduo, que constitui parte de uma relação lida com seus costumes e condicionamentos pessoais para buscar sua inteireza.
O amor é a força mais poderosa que move o ser humano justamente porque não sabemos o que é. É como se quanto mais tentássemos saber, menos inteligível ele se torna. Isso é porque psicologicamente todo homem possui em seu inconsciente a imagem arquetípica de uma mulher (anima ou alma) e a mulher a imagem do homem (logos ou sentido). Essa “região” chamada inconsciente é justamente nossa dimensão de desconhecimento acerca de nossos atos, mas ao mesmo tempo nosso porto seguro. Essa imagem (feminino ou masculino interior) que carregamos em nós nos molda segundo seus próprios critérios, é sentida como um destino pessoal (na paixão), como outra personalidade desconhecida que sempre, e digo sempre, irá subverter a maneira com que nos vemos (autoconceito) nos deixando a mercê da desorientação dando cada vez mais a certeza de que não sabemos nada sobre nós. Essa imagem psicológica pode ser projetada no parceiro ou em outra pessoa, pode continuar no parceiro quando menos esperamos ou então ganhar contornos de uma (o) amante, até mesmo em nosso corpo podemos ver nossa anima/animus. “O vento sopra onde quer”.
Bem ou mal estamos destinados a nos defrontar com esse outro desconhecido em nós, estando casado ou não. A união é um processo, um movimento em direção a nós mesmos que só é possível através do outro. Essa imagem da alma no homem sempre fará com que ele se perca no outro (tal qual a deusa Maia dos hindus), porém, seu objetivo é fazer com que deixemos de controlar nossos sentimentos em relação ao outro dando-nos maior consciência da relação e de nós mesmos. A consciência que a alma nos provoca, não controla, não possui o outro, somente nos faz seguir o fluxo, desejar quando se tem que desejar e cuidar quando se tem que cuidar.
Essa imagem interior da mulher no homem representa tudo o que ele não consegue lidar, mas se sente atraído. A atração sendo pura paixão deixa o sujeito a mercê de seus impulsos, há o descontrole psíquico, mas até esse descontrole se torna esperado na adolescência, mas se mal resolvido na vida adulta pode trazer graves consequências na escolha amorosa. 

“Quanto maior for a extensão da inconsciência, tanto menor se tratará de uma escolha livre no casamento; de modo subjetivo isto se faz notar pela coação do destino, claramente perceptível em toda pessoa apaixonada” (JUNG, 2000).

A dependência é outro mal que assola a relação, a pessoa dependente se torna ciumenta e pegajosa porque joga no outro uma responsabilidade paterno-materna, usa o outro como ar para sobreviver, também é carregada pelos seus complexos. Segundo Jung (2000), “Para tornar-me consciente de mim mesmo, devo poder distinguir-me dos outros. Apenas onde existe essa distinção, pode aparecer um relacionamento”.  O fato é que hoje casamento não é sinônimo de união amorosa e por isso não garante segurança afetiva e nem estabilidade emocional, mas a abertura singela ao outro e o reconhecimento das próprias fraquezas (característica da união psíquica) garante tudo isso. Por isso, não faz mal consultar um psicólogo para conseguirmos ter uma ideia clara de como estamos lidando com nossos afetos. Podemos ver cada vez mais que o amor não é algo a ser alcançado, mas o resultado constante de um movimento psicológico contínuo em direção ao outro em mim e vice-versa. Parece algo efêmero porque envolve nossa subjetividade até onde cada um consegue ir por algo que se acredita, se não se acredita não se sacrifica e não busca. Por isso o sofrimento é sempre um companheiro nessa trajetória em busca daquele que nos salva de nós mesmos, o amor.

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