quinta-feira, agosto 13, 2009


Hoje tentarei clarificar ao leitor o conceito de Anima/Animus cunhado pelo Psiquiatra suiço Carl Gustav Jung, e que se tornou componente imprescindível na teoria da Psicologia Analítica no conhecimento da dimensão psiquica do homem.
As Palavras anima e animus tem origem latina, possuindo o significado de alma (anima) e espírito (animus). A alma na história do simbolismo, sempre foi representada como uma chama ou um pássaro, traduzindo sua natureza intensa e fugaz e de difícil apreensão. Já o espírito compartilhando do caráter imaterial da alma sempre foi representado como um sopro ou como pneuma, “A noção de pneuma só intervirá mais tarde, na literatura de tendência teológica, como a da alma que é chamada a viver na sociedade dos deuses, sopro puramente espiritual que se dirige para as regiões celestes” (Gheerbrant e Chevalier 2006, p. 34). Assim, o pneuma simboliza a vida considerada em seus aspectos celestes e abstratos, por isso foi associado ao pensamento e vida abstrata. Podemos ver que as duas palavras possuem características comuns; são imateriais e de difícil apreensão, sendo o espírito considerado abstrato, etéreo e associado ao pensamento; a alma, por sua vez também compartilha do aspecto abstrato no símbolo do pássaro, e se diferencia por ter sido associada ao fogo sendo este vida e intensidade. Nesse sentido a experiência da alma e do espírito se tornam, uma experiência interior, algo mais profundo. Stein (2006) diz que o arquétipo da Anima/Animus estão para além das influências das coisas que dão forma a consciência dos indivíduos como família, sociedade, cultura e tradição.
O mesmo autor ainda coloca que abstratamente, anima/animus é uma estrutura psiquica que é complementar a persona e vincula o ego à camada mais profunda da psique, ou seja, à imagem e experiência do Si-mesmo (que clarificarei em um próximo post).
A melhor obra que descreve tais experiencias foi escrita por Emma, (esposa de Jung) onde a mesma descreve que a anima é a essencia interior feminina e inconsciente da psique do homem, e o animus é a essencia interior masculina da psique da mulher. Isso significa que temos um "totalmente outro" dentro de nós, aquele que buscamos e que nos suga inconscientemente em uma torrente afetiva que dificilmente conseguimos lutar, se torna o destino humano, estar condenado a se autodescobrir nas senda da mãe terra do inconsciente.
Se torna muito difícil entender os processos do inconsciente coletivo se o leitor das obras de Jung não tiver em mente que os arquetipos mapeados por Jung, são simples nomes para realidades em constande transformação. Em nossos tempos poderia dizer que um grande processo de transformação esta acontecendo paralelamente com a conquista da mulher pelo seu espaço, onde parece não mais existir uma divisão de gêneros nos trabalhos, e nas atividades domésticas. Isso pode gerar um grande mal entendido que muitos críticos da Psicologia Analítica apontam, que tais conceitos como Anima/Animus ou Masculino e Feminino já se tornariam ultrapassados já que o movimento homossexual e homoafetivo ganhou seu espaço na sociedade.

Porém tal afirmação em termos epistemológicos se torna ingênua na medida que confunde homem com masculino, homem seria um gênero e masculino uma qualidade que não necessariamente estaria relacionado ao homem, como vemos na atualidade. Por isso acredito que Jung evitou nomear com o conceito de masculino, mas preferiu usar animus, que traz também um contorno do masculino. Assim como estes arquétipos, Jung também descreveu o do andrógino ou a união dos dois gêneros. Stein (2006), aponta que poderiamos fazer uma descrição da Anima/Animus sem mesmo incluir qualquer menção ao sexo, considerando este último como uma caracteristica secundária. Temos sempre uma atitude para com a sociedade em que se torna nossa máscara, como não podemos acreditar e aceitar tudo o que os outros dizem, mas ao mesmo tempo devemos aceitar os espinhos do outro, filogenéticamente acabamos por desenvolver o arquétipo da Persona. O arquétipo da Anima/Animus, se torna nossa atitude mais íntima. Uma pessoa que possui uma boa relação com seu mundo interior não se torna exclusa, mas sabe dosar onde ela termina e onde começa o outro, são experiências fronteiriças, é como se tivessemos conhecido o outro lado da moeda, um sujeito que não suporta tal contato com sua Anima/Animus acaba por se tornar massificado e alienado de si. Como Anima significa Alma em latim, e Animus, Espírito. A pergunta não deve ser feita relacionando-os a sexualidade, mas sim da seguinte forma: "Que espécie de alma eu tenho?" ou mesmo: "Que espécie de espírito?". Jung dizia que os homens são masculinos no exterior e femininos no interior, e que as mulheres costumam ser o inverso. Talvez hoje em dia o homem se tornando mais próximo de sua anima que ganha contornos de delicadeza e sentimentalismo, não estaria mais próximo da integridade de seu Ser? Ou mesmo o arquétipo do andrógino não seria atualmente constelado pela necessidade da união da Anima/ Animus, com a consciência? São questões extremamente atuais que devemos refletir, e diz muito das atitudes de grupos sociais que são estigmatizados todos os dias. A guerra que travamos com o outro exterior a nós, é a guerra que acontece em nosso mundo interior.

3 comentários:

  1. Renato fantástica colocação. Anima e Animus - ainda que travestidos pela cultura, sem o que a imagem arquetípica não teria forma, e consequentemente inexistência para a consciência - são matrizes universais e realmente, como exposto, não devem ser vinculados às estreitas percepções do ego ou das convenções sociais; anima e animus, portanto, não estão ultrapassados. Isto posto, gostaria de confessar que ainda não compreendi claramente o porque da anima/ animus serem os "grandes concetores" com o Self. A minha visão se turva, por razão que ainda não compreendo quando estudo o eixo ego-anima/animus diferentemente do que ocorre quando a relação é com a sombra. Percebo que ao longo de muito tempo vislumbrei o contato com a sombra como o maior de todos os desafios, mas ao que parece, pela Psicologia Analítica, existem "batalhas"(não gosto do termo, pois a individuação não é uma guerra, porém uma atitude de autoamor)ainda mais árduas, quais sejam a lida com a anima ou com o animus. Gostaria que o colega, se possível, clareasse um pouco este "escalonamento": lidar com a persona; com a sombra e depois com anima ou animus. Grato pela atenção,
    Guilherme Braga

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  2. Existe algum símbolo que represente esse conceito Anima/Animus?

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